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Série Siepe 2019: projetos sobre boas práticas educativas promovem diálogo e cultura da paz em escolas públicas

16 outubro, 2019
13:33
Por laurasomoza
Ensino e Educação

Realizados em nível de graduação, os quase 2,8 mil trabalhos apresentados na Semana Integrada de Ensino, Pesquisa e Extensão (Siepe) 2019 são uma amostra da produção de conhecimento da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Dessa forma os alunos da UFPR se envolvem desde cedo em iniciativas e na continuidade de grandes projetos, o que garante a eles experiência na investigação científica, em atividades formativas, na inovação tecnológica e na extensão (que trata do contato direto com a comunidade). O portal UFPR mostra ao longo das próximas semanas alguns desses trabalhos.

No dia da fantasia, a turma do pré se diverte com a brincadeira do pato-pato-ganso, uma releitura da tradicional “lenço-atrás”, em que o lúdico é acompanhando de atividades corporais, com corridas e muita diversão. Pouco depois, uma turma de educação integral participa de atividades cooperativas, em que um colega precisa ajudar o outro a passar um bambolê pelo corpo.

Os jogos e brincadeiras das aulas de Educação Física ganham um sentido ainda mais potente nos projetos desenvolvidos por acadêmicos e professores da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A ideia é desenvolver boas práticas para, entre outras coisas, estimular a cultura da paz e ampliar o repertório cultural e de práticas corporais de crianças da educação infantil e do ensino fundamental de duas escolas públicas da rede municipal de Curitiba.

Brincadeiras ganham novos significados nas aulas de Educação Física na educação infantil (Fotos: Marcos Solivan/Sucom-UFPR)

Segundo o professor Sergio Roberto Chaves Junior, que coordena os projetos ao lado da professora Verônica Werle, as boas práticas estão relacionadas a um sentido formativo no acesso à cultura e na humanização das relações sociais. Nas aulas de Educação Física associam-se a um planejamento que, além dos documentos oficiais, levam em conta os contextos locais e da comunidade e as demandas das crianças. “As aulas de Educação Física costumam ter como conteúdo predominante práticas tradicionais institucionalizadas, como o esporte. Claro que isso faz parte, mas o que nós pensamos é na ampliação das possibilidades de práticas corporais nesses contextos”, explica.

A ênfase nos jogos e brincadeiras é, também, uma possibilidade de contrabalancear o peso das tecnologias na formação das crianças. “As crianças têm brincado cada vez menos, e a Educação Física não abre mão das práticas corporais, jogos populares, jogos de rua, jogos de mão e também dos jogos cooperativos, que operam na lógica contrária de atividades em que a competição tem centralidade”.

A partir dessa perspectiva, acadêmicos de Pedagogia e de Licenciatura em Educação Física, bolsistas de um projeto de Extensão e de um projeto do programa Licenciar fazem um trabalho de observação e intervenção em duas escolas selecionadas a partir do escopo do Projeto Equidade, realizado na última gestão da secretaria municipal de Educação. Uma delas fica próxima à região central, em uma localidade que possui problemas de saneamento e violência urbana. A outra atende a um público amplo, de educação infantil e ensino fundamental, no bairro Cajurú.

Acadêmicas desenvolvem projetos de boas práticas em escola de Curitiba

“Nós fomos observar e ver onde estavam essas boas práticas e como elas aconteciam. Só depois desse trabalho de observação que nos inserimos, com essa proposta de humanização das relações sociais e de transbordar os muros das escolas”, explica o professor. Uma das professoras que teve as aulas observadas e hoje recebe estagiárias da UFPR é a pedagoga e professora de Educação Física Jucélia Martinelli. Lecionando para uma turma de pré, ela ressignifica brincadeiras e está sempre atenta às particularidades das crianças. “Essa interação entre nós e a universidade é muito rica. Só quando entra em sala de aula o acadêmico sabe o que é ser professor. Ao mesmo tempo, eles trazem muita motivação e coisas novas para a gente”.

Motivação e novidades

A motivação e as novidades às quais a professora se refere são releituras de brincadeiras e de jogos que podem provocar mudanças na escola. A acadêmica de Educação Física Karine Antônia da Silva, por exemplo, criou um abecedário de sentimentos, e associava a palavra do dia a alguma prática ou brincadeira específica. Palavras como diálogo e respeito levaram a turma a refletir sobre a importância que eles têm em seu meio social.

Ela também inseriu a rotina de meditação em uma turma da Unidade de Educação Integral (UEI) que se mostrava muito agitada, fazendo do início das aulas um momento de reflexão e tranquilidade. “É claro que é muito difícil, mas já é possível sentir que eles mudam neste momento”, comenta.

Parte da equipe reunida, com o livro “Paz é ser juntos”, produzido com as atividades desenvolvidas pelas crianças do projeto

A alguns quilômetros dali, na outra escola que recebe os acadêmicos da universidade, desenhos coloridos e cheios de significado mostram o impacto das boas práticas na formação das crianças. “Paz é alegria e sossego”. “Paz é não ter pobreza”. “Paz é ser juntos”. Foi assim que a turma respondeu a uma questão que instiga a humanidade – o que é paz, afinal?

A partir do conceito de cultura da paz, o grupo de bolsistas promoveu atividades preocupadas em valorizar o diálogo, o respeito e o acordo mútuo. “O respeito ao contato com o outro e ao corpo do outro foram incentivados a partir de atividades práticas voltadas a um precisar do outro”, explica Carolina Luczyszyn, acadêmica do curso de Pedagogia.

O jogo em que uma criança precisa ajudar a outra a passar o bambolê adiante e a corrida que estimula o diálogo e a união para levar as crianças até a reta final ilustram a proposta. Agora, o grupo irá levar o conceito de jogos do mundo a esta mesma turma. “Vamos pegar jogos de vários lugares do mundo, mostrar materiais, falar um pouco das histórias e dos contextos em que essas brincadeiras surgem”, explica Carolina.

Boas práticas devem gerar material didático

A busca por boas práticas nas aulas de Educação Física e nas questões que ajudem a mapeá-las e compreendê-las originou, também, o projeto de extensão “Corpo e movimento: saberes e práticas da educação física escolar”, coordenador pelos professores Sergio e Verônica.

Projetos incentivam cooperação e diálogo

O objetivo do projeto é desenvolver e divulgar práticas pedagógicas que permitam a ampliação e apropriação crítica da cultura corporal, com foco no conteúdo estruturante jogos e brincadeiras. Segundo o professor, o conceito já desencadeou monografias, TCCs e relatórios de estágio, promovendo uma relação entre pesquisa e extensão. “Pretendemos produzir um material de apoio didático a partir dessas experiências”, explica.

De acordo com ele, documentos como o currículo da rede municipal e a Base Nacional Comum Curricular trazem muitos desafios aos educadores, por isso a ideia de produzir e sistematizar o que já se mostrou eficaz. “Não é um caderno de receitas, mas sim de ideias que poderão ser compreendidas e ressignificadas em cada realidade”, explica.

A preocupação em observar práticas contextualizadas e partilhar saberes com os professores que estão em sala de aula, no dia a dia das comunidades, faz com essa sistematização seja desafiadora. “Essas experiências propõem que o tempo e o espaço da aula de Educação Física fomentem relações positivas em toda a escola e para além dela”, finaliza.

Acompanhe as reportagens sobre os trabalhos publicados na Siepe 2019 da UFPR neste link

Leia notícias sobre o 1º Festival UFPR de Ciência, Cultura e Inovação aqui

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