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Relatório indica que administração pública buscou apenas gerenciar danos e não combateu pandemia

Um grupo de pesquisadores da UFPR lançou um relatório com os resultados de um estudo sobre as ações de gestores públicos frente à pandemia de covid-19, com foco na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). O resultado principal do documento é a conclusão de que as políticas implementadas em nível municipal, estadual e nacional não seguiram no sentido de combate à doença, mas apenas de gerenciamento de danos, evitando tomar medidas efetivas de distanciamento social e contrapartidas econômicas que permitissem às pessoas ficar em casa, buscando apenas se preparar para o impacto da doença, como a criação de novos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI).

Evolução de casos de covid-19 em Curitiba em 2020 – imagem: PDUR

O estudo foi coordenado pela pesquisadora Maria Tarcisa Bega e envolveu cerca de 25 pesquisadores ligados ao Grupo de Pesquisa e Extensão em Políticas Sociais e Desenvolvimento Urbano (PDUR) da UFPR e acontece no contexto do Observatório das Metrópoles que envolve outros grupos de pesquisa no país. O grupo acumula uma larga experiência no estudo de políticas públicas, iniciando suas atividades no ano de 2006 e estando registrado no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) desde 2010.

Bega explica que o estudo de políticas públicas envolve a pesquisa dos impactos diretos e indiretos de qualquer tipo de ação governamental. O foco do grupo são as políticas sociais que envolvem a área da seguridade, previdência e serviço social, além das áreas de saúde e educação. “O objetivo foi analisar o impacto da doença na produção de desigualdades que afetam a área da Região Metropolitana de Curitiba”, conta a pesquisadora.

Segundo a cientista, “não houve um enfrentamento à pandemia, mas sim uma espécie de gerenciamento de danos. Como nós chegamos a essa conclusão? Nós analisamos os dados, vimos como a doença estava se espalhando e quais ações públicas foram tomadas. A gente parte do pressuposto científico, definido pelos especialistas, que o único jeito que nós temos para minimizar, barrar ou controlar efetivamente uma doença altamente infecciosa, que se espalha pelas gotículas de saliva, é o distanciamento ampliado e bastante rígido”.

“Fica claro, a partir do grande pico de julho e agosto, que o Estado, e eu digo o Estado Nacional e também o Estadual e os poderes locais, ao invés de forçar um distanciamento maior, com as condições para que as pessoas sobrevivessem, óbvio, optaram por gerenciar a pandemia”, completou.

Acesse o documento na íntegra aqui.

Veja a nota lançada pelos pesquisadores:

Gerenciamento da pandemia do novo coronavírus na Região Metropolitana de Curitiba

Os maiores municípios da RMC encerraram o ano de 2020 com mais de 160 mil casos confirmados de Covid-19 e mais de 3 mil mortes causadas pela doença. Monitoramento do combate à pandemia na região revela a baixa testagem e a subnotificação como políticas, a partir das quais se construiu um quadro de estabilidade artificial, que mascarava a necessidade do endurecimento das medidas de isolamento social. Com base nesses dados irreais foi criado um sistema de bandeiras na capital Curitiba, que estabelecia critérios técnicos para definir o abrandamento ou enrijecimento das medidas de isolamento social e o funcionamento do comércio. A estratégia foi a de administrar os impactos da crise sanitária ao invés de enfrenta-la, que definimos como “gerenciamento da pandemia”. No lugar de evitar a transmissão do novo coronavírus, optou-se por fornecer lugar para tratamento dos doentes, trabalhando por meses a fio com o SUS no limite, mediante ampliação de leitos, ou seja, as políticas adotadas como o sistema de bandeiras visavam sobretudo preservar o sistema e sua capacidade de, continuadamente receber novos pacientes. Se a quantidade de leitos tivesse permanecido a mesma do início da pandemia (308 leitos), em dezembro quando se registrou o maior número de pacientes internados (597 leitos ocupados em 14 de dezembro), a demanda teria excedido em 93,83% a oferta de leitos. Em números absolutos, 289 pessoas ficariam sem encontrar uma vaga. Além disso, o poder público tinha conhecimento das altas taxas de letalidade entre os pacientes graves, cerca de 25%, e que estava expondo milhares de pacientes a risco de morte. Durante os meses de aparente estabilidade (entre setembro e outubro) a manutenção da estratégia de “gerenciamento” estabeleceu o que pode ser chamado de “novo normal”: “horário comercial pandêmico”; uso obrigatório de máscaras; picos de contaminação após feriados; mortes diárias por Covid-19. Todos estes esforços se justificavam para não fechar a economia, o maior objetivo dos gestores desde a confirmação dos primeiros casos, que se sobrepôs ao direito à saúde.

Link para versão completa do relatório:
https://drive.google.com/file/d/1cmfQgxidcGpA50bsWa_6VnUJW5V93NNg/view

Saiba mais: Entrevista com a professora Maria Tarcisa Silva Bega para a revista Ciência UFPR sobre o tema.

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