Com estudos sobre degradação e monitoramento de agentes tóxicos, como agroquímicos e simulantes de armas químicas, Elisa Orth, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), desenvolve pesquisas que contribuem para a segurança. A docente ocupa, desde o final de janeiro, um lugar no Conselho Científico Consultivo da principal instituição internacional de combate à guerra química.
Sediada na cidade de Haia, na Holanda, a Organização para Proibição de Armas Químicas (Opaq) tem como missão tornar o mundo livre desses apetrechos. A instituição foi criada em 1997 pelos países que assinaram a Convenção de Armas Químicas (CAQ). O tratado administrado pela Organização foi firmado em Paris e é considerado o primeiro acordo mundial de desarmamento para eliminação de uma categoria de armas de destruição em massa.
Em 2022, 193 países são membros da Opaq. Egito, Coreia do Norte e Sudão do Sul não assinaram a Convenção. Em 2013, os esforços para eliminar armas químicas renderam à Organização o Prêmio Nobel da Paz.
O Conselho Científico Consultivo, do qual a professora do Departamento de Química da UFPR passou a fazer parte, é vinculado à Opaq que auxilia o diretor-geral da Organização – com a prestação de assessoria especializada em ciência e tecnologia às Conferências de Revisão da Convenção de Armas Químicas, ao Conselho Executivo e aos Estados-membros da CAQ.


O órgão tem, também, o papel de avaliar e informar ao diretor as atualizações nas áreas científicas e tecnológicas que são relevantes para a Convenção de Armas Químicas. O Conselho é formado por 25 especialistas independentes dos Estados-membros. Orth é uma dos quatro cientistas americanos — três da América Latina — que atuam junto à entidade. A professora foi eleita em 2021 e deve cumprir um mandato de três anos, o qual pode se estender por mais um triênio, caso seja reeleita.
Para Orth, que se interessou pelo campo da ciência ainda durante a escola, é uma honra ocupar a posição, cujo papel decisivo dentro da Organização e nas ações que promove. “Tenho certeza que essa experiência vai agregar muito para as minhas pesquisas, para a minha atuação e, principalmente, para a UFPR, por ser um cargo de grande prestígio e reconhecimento internacional. Certamente, terei muito a aprender”, afirma.
Como explica a pesquisadora, algumas armas químicas altamente letais, como o tabun e o sarin, foram acidentalmente sintetizadas durante a busca por novos inseticidas. A proximidade dos compostos despertou o interesse de Orth pela área dos armamentos. “Meu interesse começou com agroquímicos, pois temos grande preocupação em garantir alimentos seguros e em como tornar isso mais viável, já que ainda precisamos deles para larga produção. Comecei a me interessar por armas químicas, porque as substâncias são parecidas. Na verdade, elas surgiram dos agroquímicos”, enfatiza.
Os estudos desenvolvidos por Orth têm como objeto os dois tipos de produtos. A cientista pontua que o foco da linha de pesquisa em que atua é a segurança química, ou seja, o manuseio seguro das substâncias. “O interesse é destruir essas substâncias tóxicas com segurança e, ainda, monitorar a presença delas em casos de ataques, que tem sido cada vez mais recorrentes”, comenta.
Armas químicas
As armas químicas ganharam destaque durante o período das Grandes Guerras. No entanto, são usadas desde 1.000 a.C., com a manipulação de arsênio pelos chineses e com os gregos, que envenenavam a água dos inimigos. A passagem do tempo levou ao aprimoramento das armas e dos componentes.
Os compostos desenvolvidos recentemente podem ser indetectáveis e intratáveis. Além do imenso potencial de destruição – podem exterminar numerosas populações em curto espaço de tempo -, as armas químicas têm um custo menor se comparado ao das armas convencionais. Fato esse que, na visão de Orth, torna indispensáveis a vigilância e o controle dessas substâncias.
Armas químicas, segundo a Opaq, são produtos químicos usados com a finalidade de causar morte ou dano intencional por meio de propriedades tóxicas. Ainda de acordo a Organização, munições, dispositivos e outros equipamentos projetados para acionar substâncias químicas tóxicas também são considerados nesse escopo.
Até a Segunda Guerra Mundial, as armas químicas produzidas eram agentes irritantes — o que não impediu que cerca de 100 mil mortes fossem causadas por ataques químicos durante a Primeira Guerra, observa a docente. No segundo grande conflito, agentes neurotóxicos, produtos com a capacidade de desencadear dor e alterar funções do sistema nervoso, foram desenvolvidos com o objetivo de serem ainda mais mortais.
Por Letícia Barbosa Ribeiro
Sob orientação de Bruna Bertoldi Gonçalves