

Entre nomes como Ruth Rocha, Cristovão Tezza e Rubem Fonseca, o professor Guilherme Gontijo Flores, do departamento de Letras da Universidade Federal do Paraná, é um dos indicados ao 56º Prêmio Jabuti, o maior da literatura brasileira. O reconhecimento é pela tradução de “A anatomia da melancolia”, do autor inglês do século XVII Robert Burton, que já levou o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, também na categoria tradução, e foi publicado pela Editora UFPR.
Dividido em quatro volumes, a primeira parte da obra foi lançada em 2011 e, ao última, no ano passado. Indicado pela primeira vez ao Jabuti, Gontijo concorre, ainda, ao Prémio Portugal Telecom de Literatura, mas com um livro de poesias de autoria própria, “Brasa enganosa”, da editora Patuá.
Nós entrevistamos o professor e ele nos conta um pouco de como foi o processo da tradução.
– Como foi a tradução desta obra?
A tradução foi um processo longo e complexo. A anatomia da melancolia é um grande livro grande: duas mil páginas escritas numa prosa inglesa refinadíssima do século XVII, entremeada por inúmeras citações em latim, além de um número gigantesco de notas do próprio Robert Burton. Recriar tudo isso e ainda dar indicações e auxílio para o leitor foi um trabalho imenso, que ao mesmo demandava uma espécie de poética da prosa, mesmo que se trate de um livro mais enquadrável na filosofia, na teologia ou na medicina.
– Qual a sensação de ter o seu trabalho reconhecido?
É muito bom ver que o trabalho tem recebido um reconhecimento dos estudiosos de áreas diversas, tanto para mim — como um reconhecimento do empenho em traduzir um calhamaço — como pelo Burton, porque considero uma obra-prima ocidental, que permanecia sem tradução em língua portuguesa. Por isso, em parte, penso que o reconhecimento é basicamente a percepção de que uma lacuna importante foi enfim preenchida.
– Quais outros prêmios você já ganhou? Quantos livros tem publicados?
Eu recebi o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) por esta mesma tradução. Já publiquei a tradução de “As janelas”, seguidas de poemas em prosa franceses, de Rainer Maria Rilke (2009, Ed. Crisálida, em parceria com Bruno D’Abruzzo) e das “Elegias de Sexto Propércio” (2014, Ed. Autêntica). Além disso, também publiquei em 2013 um livro de poemas, “brasa enganosa” (que acabou de ser indicado como finalista do prêmio Portugal Telecom) e acabei de lançar um poema-site chamado Tróiades – remix para o próximo milênio.
– Por que escolheu esta obra de Robert Burton para traduzir?
Na verdade, a história seria muito longa, e eu poderia resumir assim: uma série de conversas com amigos ao acaso e de afinidades eletivas ao longo de vários me levaram a aceitar o convite feito pelo [professor da UFPR] Caetano Galindo e pela Editora UFPR (sob a gentil direção de Gilberto Castro) de pegar essa obra. Ela é, na verdade, praticamente tudo que Burton escreveu, pois ele dedicou quase toda a vida à reescrita e à reedição do livro — por isso seu tamanho; fora a “Anatomia”, Burton publicou apenas uma peça de teatro escrita em latim, chamada “Philosophaster”, que eu desejo traduzir no futuro.
– Tem algum outro projeto literário previsto para o futuro?
No momento, estou dando continuidade ao meu projeto de doutorado, traduzindo as “Odes” de Horácio. O plano é preparar uma tradução poética integral acompanhada de notas; além disso, faço parte de um grupo que traduziu coletivamente o “Paraíso Reconquistado” de John Milton, obra que deve sair ainda este ano pela Editora de Cultura. No mais, não estou com nenhum projeto com a Editora UFPR, mas pretendo apresentar um em breve. Quem sabe ele germina.
Por Jéssica Maes