

Três mesas-redondas movimentaram o último dia das atividades da Siepe em Curitiba. Nos auditórios do Setor de Ciências da Saúde os temas foram ‘A crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto: 20 anos sem Darcy Ribeiro’, ‘Ciência, Tecnologia e Ambiente’ (com a presença do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). No auditório do Setor de Ciências Sociais Aplicadas o tema foi ‘O Suicídio como Laço Social’. Confira os assuntos debatidos!
Darcy Ribeiro e a crise na educação
A mesa-redonda com os professores da UFPR, Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde e Carlos Roberto Vianna e mediação da professora Catarina Moro, fez um paralelo entre a situação vivida nos finais do regime militar e a atual conjuntura político-social por que passa o país a partir da famosa frase do famoso estudioso brasileiro Darcy Ribeiro, uma das referências da educação.
Arco-Verde explica que para Ribeiro estava claro que havia um projeto para manter a precariedade da área da educação no país nos finais do regime militar, o que foi contraposto pelas vitórias democráticas colocadas a partir da Constituição de 1988.


“A questão constitucional com o direito a educação para todos trouxe junto todas nossas políticas que avançam na área da alfabetização, do combate ao analfabetismo, da educação de jovens e adultos, da diversidade e mesmo na qualidade da educação básica” explica a professora.
A professora indicou que estas tendências se inverteram desde a retirada do poder da presidenta Dilma Rousseff: “Estes avanços vieram se pondo nas últimas décadas mas agora nós temos outro movimento com medidas medidas de retomadas de uma postura neoliberal”, de estado mínimo, você abre para a privatização”.
Vianna também destacou que há paralelos nos processos vigentes na época que a frase foi formulada e a atual conjuntura. Para o professor é importante retomar o engajamento político, a exemplo de Darcy Ribeiro, que além de ser um pesquisador foi um destacado líder político na defesa da popularização da educação.
Suicídio como laço social
Em setembro passado, o Ministério da Saúde divulgou, com o primeiro boletim (LINK: http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/svs/noticias-svs/29692-taxa-de-suicidio-e-maior-em-idosos-com-mais-de-70-anos) em que trata especificamente do assunto, a meta de reduzir em 10% a mortalidade por suidício. O boletim aponta aumento da taxa de mortes por suicídio a cada 100 mil habitantes entre 2011 e 2015 — de 5,3 para 5,7. O suicídio já é a quarta maior causa de mortes de brasileiros de 15 a 29 anos e o país apresenta diversas populações de risco, como indígenas e idosos (maiores de 65 anos).
Em meio a esse cenário, a mesa redonda “Suicídio como Laço Social” buscou desmistificar aspectos desse problema de saúde pública, que ainda suscita muitos mitos. Isso ocorre ainda que a popularidade do tema esteja em alta — nunca se falou tanto sobre suicídio, mas nem sempre com eficiência, como lembrou a psicóloga e psicanalista Débora Patrícia Nemer Pinheiro, que atua no Hospital de Clínicas (HC) da UFPR.
“Nunca se falou tanto, todos têm uma opinião sobre tudo. A fala é uma boa alternativa, mas precisa necessariamente ter uma eficácia que eu chamaria de simbólica”, opinou.
A psicóloga reforça que o estímulo para que pessoas em sofrimento emocional desabafem precisa ser acompanhado de ouvintes à altura. “Ouvir é diferente de escutar”, disse. “A palavra é uma forma de expressar angústia, mas não é falar por falar. E é preciso que alguém escute de forma diferente, com acolhimento e sem julgamentos. Portanto, é necessário alguém disposto a expor com sinceridade a sua intimidade e um outro capaz de ouvir com perspicácia”.
Débora enumerou algumas concepções fictícias a respeito do suicídio que ainda permeiam o senso comum. São elas: quem ameaça não se mata; a maioria dos suicídios ocorrem sem aviso; quem quer se suicidar, consegue, não apenas tenta; e que uma melhora perceptível significa que o risco está afastado.
A psicóloga esclarece que a ideia de suicídio gera “sentimentos ambivalentes” mesmo em pessoas que optam por ele, e que, em geral, sinais são dados. “A maioria avisa a intenção, por isso é importante saber ler os sinais”, disse. Nisso se baseia a concepção de que a maioria dos suicídios são evitáveis — é nela que se baseiam as atuais políticas públicas.
Frente a isso, qual seria a melhor forma de ouvir? A psicanalista Maria Virginia Cremasco Grassi, professora de Psicopatologia e Psicanálise na UFPR, lembrou que, para a psicanálise, a ideia de suicídio é um instante em a pessoa objetifica seu próprio ‘eu’, se distanciando dele.
“Freud diz que, naquele momento, quem se mata vê a si mesmo como um objeto, e não mais como aquele ser que busca manter sua existência”, explicou. “Quando afirmamos que a maior parte dos suicídios são evitáveis, falamos de um ‘eu’ que, em um momento de objetificação, não realiza a ação porque laços são apresentados de uma forma que o faça não odiar a si mesmo. Porque é isso que ocorre: a possibilidade de se matar tem a ver com o ódio direcionado ao ‘eu’, não à situação, ao outro ou a uma doença”.