

Cheila Adriana Nunes, 19 anos, está cheia de expectativas. Ela é uma estudante indígena e veio a Curitiba para tentar, pela primeira vez, uma vaga para a Faculdade de Artes do Paraná, onde pretende cursar Artes Visuais. A estudante, da etnia Caingangue, fez o ensino fundamental e médio na cidade de Chopinzinho, proximidades da Aldeia Mato Branco, onde mora. Gosta muito de desenho e pintura e quer ser professora na escola da aldeia.
Assim como Cheila, candidatos indígenas ─ do Paraná e do Brasil participaram durante todo o dia desta quinta-feira, 13 de dezembro, do XII Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná. Foram homologadas 341 inscrições para o processo seletivo. Eles estão concorrendo a vagas suplementares nas universidades estaduais e na UFPR. Cada universidade estadual participante destina seis vagas suplementares para estudantes indígenas de etnias do Paraná. A UFPR destina dez vagas suplementares para estudantes de etnias do Brasil.
Provas
Neste primeiro dia do processo seletivo, eles passaram por prova oral em bancas compostas por dois professores. Foi registrado aproximadamente 20% de faltantes no turno da manhã. De acordo com uma das coordenadoras, professora Laura Ceretta Moreira, o processo transcorreu dentro da normalidade e os estudantes puderam realizar a prova com tranquilidade.


Nesta sexta-feira (14), será a vez da prova de redação e das provas objetivas. Serão questões sobre Língua Estrangeira Moderna ou Língua Indígena (Guarani ou Caingangue), Biologia, Física, Geografia, História, Matemática e Química. As provas terão início às 8h30, com duração de cinco horas, terminando às 13h30. Os candidatos são orientados a chegar com meia hora de antecedência. Os portões são fechados impreterivelmente às 8 horas.
Diferente do vestibular geral, os estudantes indígenas primeiro precisam se classificar no processo, para depois escolher o curso em que desejam pleitear a vaga. Cada universidade disponibiliza uma única vaga por curso ofertado (veja a lista de universidades e cursos em www.nc.ufpr.br/vestibularindigena), já que é uma vaga suplementar. Assim, quanto melhor classificado, maiores as chances de conquistar a vaga nos cursos mais procurados. Os classificados passam por uma nova entrevista para concretizar a opção do curso.


Desde 2005
Na Universidade Federal do Paraná, o ingresso de estudantes indígenas por essa modalidade de seleção para vagas suplementares é realizado desde o ano de 2005, e por meio da qual já formou dez estudantes vindos de diversas nações indígenas do País. Atualmente, eles somam 38 estudantes na UFPR, em diversos cursos como Direito, Enfermagem, Pedagogia, Agronomia, Medicina Veterinária, entre outros.
Observadores externos
Pela primeira vez o vestibular indígena está sendo acompanhado por um grupo de observadores externos, convidados a acompanhar o processo. Professores da Universidade Estadual de Londrina, Universidade Federal de Pelotas, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Universidade de Santa Maria estão entre os observadores. A ideia é propiciar uma apreciação do processo através daqueles que não estão envolvidos diretamente e, por isso, podem analisá-lo com isenção.


Por outra via, os observadores também estão colhendo subsídios para auxiliar a implantação das cotas indígenas previstas na nova Lei nº 12.711/12 de cotas do Governo Federal. Lori Altmann, da UFPEL, e José Nilton de Almeida, da UFSC, estão entre os observadores. Para eles, os mecanismos e tecnologias observados ajudarão a modelar os processos de implantação de cotas indígenas no âmbito de suas universidades.
Leticia Hoshiguti