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Festival UFPR: desafio maior dos alvos de desinformação é romper “crenças”, avalia a pesquisadora Ivana Bentes

24 setembro, 2019
14:26
Por edhomologa1
Ciência e Tecnologia

As transformações nos processos comunicacionais que subverteram a lógica entre quem consome e quem produz conteúdos de massa é um dos objetos de estudo da professora Ivana Bentes Oliveira, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dentro desse modelo gerado pela internet, que Ivana reconhece como de “midialivrismo”, um aspecto atrai a atenção: a forma como os novos processos reconfiguram valores e até o conceito de “verdade”. Essas capacidades fundamentam outro fenômeno, o da produção de conteúdos para alimentar “crenças” — a palavra aqui perde conotação religiosa para englobar convicções que fogem à lógica.

A questão se torna mais complexa quando o objetivo dessas criações é desinformar. Ou seja, quando elas surgem para consolidar uma narrativa de pós-verdade, o termo que ingressou no Oxford Dictionaries em 2016 para denominar situações em que o fato objetivo importa menos do que o apelo emotivo. “Como dialogar com ‘crenças’ em um mundo em que tantas pessoas querem acreditar?”, foi a pergunta que a pesquisadora lançou ao público da conferência de abertura do 1º Festival UFPR de Ciência, Cultura e Inovação, realizada nesta segunda-feira (23) no Teatro da Reitoria, em Curitiba (veja a programação aqui).

A professora e pesquisadora Ivana Bentes foi a conferencista na abertura do 1º Festival UFPR, na noite desta segunda (23). Ao lado dela na foto, o professor Francisco Mendonça, pró-reitor de pesquisa e pós-graduação. Foto: Marcos Solivan/Sucom-UFPR

Em uma apresentação bem-humorada, que trouxe mais indagações do que conclusões, Ivana sustentou que as convicções que desafiam fatos objetivos são mais facilmente combatidas quando é possível expor suas consequências prejudiciais. “A meu ver a única forma de desmontar uma ‘crença’ é dar provas de que ela é produtora de sofrimento e morte”, reflete a pesquisadora. Dessa forma, exemplifica, torna-se viável argumentar contra teorias anti-científicas como o racismo e as do movimento anti-vacina. “É mais difícil discutir [nesses termos] com um terraplanista, mas talvez por isso o terraplanismo pareça mais simpático. Até onde consta ninguém morre por causa dele”, brinca.

A pesquisadora ressalta que esses temas são especialmente importantes para o universo acadêmico, que também encontra dificuldades em um panorama que soma instabilidade política e social, fluxo veloz de informações e transformação da internet em uma arena cada vez mais acirrada de disputa narrativa. “A universidade está no limite desses questionamentos também”, afirma. “A crise de autoridade que tomou o campo político chegou à ciência, ao horizonte máximo das verdades”.

Desinvenção

Em seus estudos no Laboratório de Inovação Cidadã da UFRJ, Ivana aborda a produção midiática dos diferentes grupos sociais que se apossaram das ferramentas de criação de conteúdo, das periferias à propaganda política. A pesquisadora cita o ano de 2013 como o marco temporal do midialivrismo no Brasil. “Foi quando passamos a viver essa revolução que foi a apropriação da tecnologia por um campo grande de sujeitos”, avalia. A partir daí, houve uma diversificação inédita de conteúdos disponibilizados pela internet, assim como fenômenos também singulares de popularidade (espontâneos e automatizados).

Para Ivana, essa movimentação propiciou uma profunda “desconstrução dos mitos fundadores do Brasil”. Ela se refere à visibilidade e aos questionamentos provocados pela exposição de mentalidades antes submersas no cotidiano brasileiro. Assim, a ideia de que o país seria uma espécie de democracia racial foi confrontada pela atuação das “redes de ódio”; e comportamentos sexistas antes normalizados, como a cantada, foram esquadrinhados. Ivana comenta que esse processo veloz e “desorganizado” de desinvenção está no centro do que fez do Brasil atual “uma mistura de Mad Max com Black Mirror”.

Atualmente, a pesquisadora está trabalhando em um livro em que aborda a influência que os memes [conceito, em geral imagético, que viraliza na internet] podem exercer na opinião pública. Para Ivana, essas imagens têm alta capacidade de produzir subjetividades, estéticas e linguagens, por isso merecem atenção científica. “A memética evoluiu do campo do risível para o do aparato institucional”. São essas novas ferramentas que a pesquisadora vislumbra como essenciais para a comunicação institucional nesse novo cenário.

Confira a programação completa do 1º Festival UFPR de Ciência, Cultura e Inovação, que inclui a 11ª Siepe, aqui

Leia mais notícias sobre o Festival UFPR neste link

Veja a programação da Siepe 2019 aqui

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