Já virou tradição. Todo mês de junho, há 10 anos, o Centro de Línguas e Interculturalidade (Celin) da UFPR pendura as bandeirinhas, prepara a música e as comidas típicas e promove uma festa junina para que os estrangeiros matriculados no curso de Português como Língua Estrangeira (PLE) conheçam um pouco da cultura popular brasileira. Este ano, a festa aconteceu nesta quarta-feira (13), Dia de Santo Antônio, e reuniu alunos de várias nacionalidades, além de professores e funcionários do Celin.
Os professores e alunos que organizaram a festa capricharam na decoração. As típicas bandeirinhas enfeitavam o teto e as bandeiras de Santo Antônio se destacavam nas janelas. Foi preparada uma mesa com comidas típicas, como pé de moleque, maçã do amor, cachorro quente, canjica, paçoca e o disputado bolo de Santo Antônio.
Norma Müller, bacharel em Letras e analista de projetos educacionais no Celin, conta que a festa faz parte do aprendizado dos alunos no curso de PLE. “A gente ensina aos alunos quais são as partes da comemoração e tudo que está ligado a ela”, fala. Cada turma do curso estuda uma parte da festa e fica responsável por organizá-la. Assim, o evento tinha diversas brincadeiras típicas, como jogo de argolas, pescaria, rabo do burro, boca do palhaço, correio elegante e uma apresentação do casamento, quadrilha e uma banda.


De acordo com Norma, o curso tem aproximadamente 80 alunos de várias nacionalidades, como franceses, alemães, mexicanos, hondurenhos, coreanos, japoneses, mongóis, britânicos e americanos. Os alunos gostam principalmente da quadrilha. A dança começa com a turma que participou dos ensaios e depois todos entram na roda. Este ano, os alunos do curso de Português PEC-G, curso específico para quem quer entrar em uma universidade, fizeram uma apresentação de banda com os mais diversos instrumentos.


Julio Marques, que é professor de português do PEC-G, conta que cada aula é um desafio diferente. “A maioria dos alunos nunca estudou o português e escolheu o Brasil por causa da curiosidade pelo novo”, conta o professor. “Toda vez que a gente tem um desafio a gente tende a melhorar”, comenta Julio sobre as dificuldades em lidar com tantas culturas diferentes em uma sala de aula. “Mas uma coisa importante é que eles se relacionam muito bem entre si, já que estão juntos no mesmo processo”, finaliza.
O estudante de Letras Danilo Hatori, que também dá aulas de Português, foi responsável por realizar a oficina de forró e de instrumentos para os alunos. “Eles se mostraram muito receptivos e dedicados, então foi muito divertido”, comenta. Para ele, introduzir os alunos nessas festas vai muito além da questão linguística. “Aprender sobre o que é o Brasil envolve mais do que só o idioma. A festa é parte do processo de aprender estar aqui”, fala.
Hatori comenta que dá aula para alguns refugiados de guerra que querem continuar suas vidas no Brasil, e diz que atividades como a festa junina contribuem para as relações interpessoais e o conhecimento cultural: “Ela aproxima os alunos, faz com que se sintam mais integrados”.
Integração
E os estudantes se divertiram muito. Marella Pimental é do Panamá e está estudando português porque pretende cursar Engenharia Civil na Universidade Federal de Santa Catarina. Ela conta que sua adaptação foi bem fácil, com a ajuda dos professores, que considera muito amigáveis. “Acho que eles têm uma boa forma de ensinar e isso deixa as aulas muito legais”, elogia. Apesar de conhecer poucos lugares no Brasil, Marella adora as praias do litoral catarinense e admira a receptividade dos brasileiros.
Essa característica também é citada por Erick Calderon, de Honduras. Ele conta que a festa junina é bem diferente da cultura hondurenha e que no seu país de origem as pessoas relacionam o Brasil mais com o carnaval. Mas agora que conhece melhor a cultura, ela fica impressionado com a diversidade brasileira. “Os brasileiros são bem diferentes e eu acho muito legal conviver com pessoas com histórias diversificadas”, conta o rapaz, que está há quatro meses em Curitiba e se muda em novembro para Porto Alegre, onde vai cursar Medicina.
Tuanny Eugênio é professora de português e estagiária no Núcleo Tandem do Celin. A turma dela ficou responsável pela banda de forró. “Eles não conheciam as tradições, mas gostam muito de música”, conta. Assim, ela uniu o útil ao agradável e mostrou aos alunos aprender um pouco sobre o forró e a festa junina no Brasil. “Não é só a festa junina. É todo um trabalho ligado à história de tudo isso que acontece ao redor”.
Por Pedro Macedo, sob supervisão de Lorena Klenk