Os horários escolares brasileiros são inadequados à aprendizagem. É o que apontam os estudos de Cronobiologia, área da ciência que estuda os ritmos biológicos. O assunto entrou em voga após o Nobel de Fisiologia ou Medicina premiar pesquisadores por suas descobertas sobre o relógio biológico interno dos seres vivos (conhecido por ritmo circadiano) e a Associação Brasileira do Sono (ABS) publicar manifesto a respeito dos horários escolares no País.
Os americanos ganhadores do Nobel isolaram o gene que controla o ritmo biológico dos seres vivos. De acordo com um comunicado do Instituto Karolinska de Estocolmo, responsável pela premiação, esse gene codifica uma proteína que se acumula nas células durante a noite e se degrada durante o dia.
O ritmo circadiano influencia em questões como o sono, níveis hormonais e comportamento das pessoas. Sua desregulação pode ocasionar depressão ou o fenômeno “jet lag”, o que significa que a saúde está afetada.
Nesse sentido, a Associação Brasileira do Sono se posicionou a favor da mudança da organização temporal das escolas como uma das medidas fundamentais no processo de melhoria no desempenho acadêmico dos estudantes.
Segundo a instituição, além de causar problemas de saúde, a restrição de sono afeta o desempenho acadêmico de duas formas. Antes da aprendizagem: por aumentar a sonolência reduzindo a atenção e a prontidão. Após a aprendizagem: compromete sua consolidação, pois durante o sono o cérebro está ativo e trabalhando a serviço da consolidação da memória.
A Universidade Federal do Paraná possui um laboratório, vinculado ao Departamento de Fisiologia, responsável por estudar as relações existentes entre ciclo sono/vigília humano em crianças e adolescentes, sonolência e desempenho escolar. O Laboratório de Cronobiologia Humana (LABCRONO) está em atividade desde 2002, porém o tema já é investigado há mais de 20 anos na universidade.
O coordenador do LABCRONO, professor Fernando Mazzilli Louzada, explica sobre algumas linhas de pesquisa do laboratório. “Ao estudar populações rurais, temos mostrado o efeito do advento da energia elétrica sobre os ritmos biológicos, particularmente o sono em adolescentes. Em estudos de laboratório demonstramos a importância do sono para a memória e a solução de problemas. Além disso, estudos atestam como os horários escolares matutinos são responsáveis pela restrição de sono”.
Sono e aprendizagem
Louzada destaca que para crianças em idade escolar, entre 6 e 13 anos, é recomendado de nove a 11 horas diárias de sono. Já adolescentes, entre 14 e 17 anos, devem dormir oito a dez horas (conforme figura abaixo).
Para a ABS, adolescentes têm maior dificuldade em antecipar os horários de dormir e acordar para se adaptar aos horários escolares matutinos, principalmente os que se iniciam antes das 8h. Por isso, a associação propõe que o início das aulas para os estudantes do sétimo ao nono ano do ensino fundamental e do ensino médio ocorra, preferencialmente, a partir das 8h30.
“Iniciar os estudos nesse horário permite um mínimo de quantidade e qualidade de sono e melhor aprendizagem. Obrigar o estudante a acordar muito cedo acaba impedindo que ele durma o tempo necessário”, explica Louzada.
Ao manifestar sua posição, a ABS se junta à Academia Americana de Medicina do Sono e à Associação Americana de Pediatria, entidades que já tomaram posição semelhante. Estados Unidos é o mais avançado nesse aspecto, porém outros países como Inglaterra e Israel já mostram experiências positivas. “É importante ressaltar que na maioria dos países europeus as aulas já começam após as 8 horas”, relata o professor.