A Editora UFPR lançou a Revista Tinteiro na tarde da última sexta-feira (21) durante a XVI Feira do Livro. Com 56 páginas, a primeira edição destaca autores paranaenses e conta com crônicas, resenhas, artigos, ensaios fotográficos e entrevistas. A reportagem de capa, “As Helenas”, apresenta detalhes da vida de Helena Kolody, com relatos de três amigas da poetisa.
O periódico foi produzido com recursos da Caixa Econômica Federal para a 37ª Semana Literária SESC & XVI Feira do Livro. “Tínhamos essa verba para fazer o catálogo de livros para a Feira. Contornamos de jornalismo literário”, explica o vice-diretor da Editora UFPR, Hertz Wendel de Camargo. “A ideia era que fosse um tipo de catálogo para não pegarem e jogarem fora. Transformamos em um catálogo-revista. Tem os livros, as resenhas. Algumas ilustrações foram feitas exclusivamente para esse número”, complementa o diretor da Editora UFPR, Rodrigo Tadeu Gonçalves.
O Suplemento Pernambuco – jornal de literatura e de reflexões sobre o contemporâneo – , a Quatro Cinco Um – revista de crítica de livros – e a Piauí – publicação que produz jornalismo literário – foram inspiração para a Tinteiro. Arte, literatura e tradução fotográfica permeiam a publicação. “O nome é uma referência ao tinteiro, recipiente que o escritor ou poeta usa para molhar a pena e escrever textos. E também por ter muita tinta na capa”, informa Hertz. A imagem colorida estampada na primeira página é de autoria do ilustrador Leonardo Zampronio.
Jornalistas, pesquisadores, fotógrafos, poetas, professores, ilustradores, designers, revisores e escritores contribuíram voluntariamente para a produção da revista, que foi produzida em um mês e contou com a colaboração de bolsistas para a diagramação.
De acordo com Rodrigo, à frente da editora desde outubro de 2017, a maior dificuldade foi cumprir os prazos e trabalhar em ritmo de redação de revista. “Fizemos contato com muitos colaboradores”, relembra. Hertz destaca o engajamento dos parceiros da edição. “Em pouco tempo, conseguimos juntar uma equipe imensa de profissionais que se apaixonaram pelo projeto. Cada um doou um pouco do seu trabalho”.
A equipe recebeu propostas de apoio editorial e para a produção do periódico – concebido com a intenção de ser produzido uma vez por ano para distribuição gratuita durante a Feira do Livro. “Vamos considerar bastante a sério essa possibilidade, para que a periodicidade seja maior”, afirma o diretor. Além dos professores Rodrigo e Hertz, o revisor da Editora UFPR, Francisco Innocêncio, também editou a publicação.
Vencedor do Concurso Literário da Editora UFPR
Um bate-papo sobre poesia e literatura brasileira contemporânea entre o diretor da Editora UFPR e o vencedor do concurso I Concurso Literário da Editora UFPR, Thássio Ferreira, precedeu o lançamento da Revista Tinteiro no centro da lona instalada na Praça Santos Andrade.
“Para a gente que está começando, a chance de ter um reconhecimento qualificado é muito importante”, avalia o poeta fluminense, que também escreve contos. Thássio teve seu livro de poemas “Itinerários” publicado com 100 exemplares como premiação. “O livro fala de lugares que andei no mundo e de caminhos internos, como o da construção da linguagem”. Os interessados puderam comprar a obra, lançada na Feira, com desconto de 50%.
O autor falou sobre poemas e compartilhou sua história como escritor. “Minha trajetória é recente, mas com alguns itinerários que me dão bastante orgulho. Sou formado em Direito, escrevo desde muito cedo. A autocrítica e a timidez eram muito fortes. Aos 30 anos, decidi que iria me inserir na literatura”, revela. Seu primeiro livro, (Des)nu(do), foi lançado em 2016. Os sinais de pontuação no título têm uma explicação: “É uma brincadeira. A palavra está se desnudando dos parênteses”, esclarece.
Para Rodrigo, estratégias como descontos de até 70%, saldão de 100 livros por R$ 5,00 e o lançamento da agenda da Editora UFPR durante a XVI Feira do Livro – uma novidade – surtiram resultados positivos. “Tivemos uma média diária de 50% de vendas a mais do que no ano passado. O mercado editorial está em crise e a gente conseguir fazer um aumento desse nas vendas, foi muito bom”.
Coincidência
Adélia Maria Woellner, uma das amigas da poetisa paranaense que praticava o haikai – poema curto de origem japonesa composto de três versos com cinco, sete e cinco sílabas -, participou da Feira do Livro e foi surpreendida com a entrega da Tinteiro. “Os meninos chegaram mostrando a revista com a matéria. Fiquei meio sem fala. Não imaginava que hoje, início de Primavera, receberia essa homenagem que tem perfume de flores. Não só por ser entrevistada, mas estar como amiga da Helena, valorizarem minha relação com ela; não consigo dar a dimensão do que é uma homenagem como essa”, poetizou a escritora. “Nós não sabíamos que ela estaria aqui na Feira”, exclama Hertz diante da eventualidade.
Natural de Curitiba, a autora de 78 anos começou a escrever aos 10. Em 1963 lançou seu primeiro livro de poemas. Em seu estande na Feira, Adélia expôs “Amigos Bichos” – livro para colorir com fatos reais sobre animais da chácara em que mora, transformados em histórias infantis – e “A Descoberta do Bicudinho-do-brejo”, publicação para o público-infantil. “Essa ave pequena, do tamanho de um bombom, é do litoral do Paraná. Foi registrada há pouco tempo e oficializada pelo livro”. Adélia e a bióloga Bianca Luiza Reinart são co-autoras.
Ela relembra com carinho o período em que conviveu com Helena. “Viver com Helena era conviver com uma fada de verdade: generosa, humilde, participativa. Foram bençãos poéticas que colhi e conservo até hoje na minha vida”, finaliza a escritora.
Por Bruna Bertoldi Gonçalves
