

Na manhã da última segunda-feira, dia 13, o auditório do Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Paraná ficou lotado com alunos dos mais diversos cursos para o debate “A imagem dos movimentos sociais na mídia”. Os estudantes de Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda abriram as portas para todos os interessados e receberam futuros químicos, psicólogos e economistas, além de pais, avôs e professores, que se espalharam pelo local em poltronas, cadeiras de plástico, em pé e até sentados no chão.
O motivo de tanto interesse eram os convidados para a discussão, que começou com Neli Gomes, ativista do Movimento Negro, Xênia Mello, feminista e membro da organização da Marcha das Vadias, Leonildo José Monteiro, do Movimento Nacional da População de Rua, e Jean Wyllys, sétimo deputado federal mais votado do Rio de Janeiro, reeleito pelo PSOL. A mediação foi feita pelo chefe de departamento, Mário Messagi Jr. O evento faz parte da Semana Acadêmica de Comunicação Social, que acontece desde a última sexta-feira, dia 10, e se encerra nesta terça, dia 14.
Com um clima de aceitação e inclusão, mães puderam trazer seus filhos – incluindo as duas palestrantes – e as falas eram aplaudidas em libras, ainda que não houvesse um intérprete da linguagem de sinais presente, como lembrou Xênia. “É preciso pensar diferentes formas de comunicação e socialização que não sejam excludentes”, diz a advogada, que foi candidata a deputada estadual nas últimas eleições e também milita pelo parto humanizado. Ela ainda chama a atenção para a importância da representatividade na mídia usando como exemplo a presença do parlamentar. “Todo mundo está aqui para ver o Jean, vocês não vieram aqui para ver a Xênia”. Wyllys venceu a quinta edição do reality show “Big Brother Brasil”, ganhando fama no país todo.
Outras formas de pensar
“Eu era o Neo agindo de dentro da Matrix”, brinca, explicando que participou do programa justamente para chamar atenção para a temática LGBT, já que é homossexual. “Nós temos que usar os meios de comunicação de massa para chamar atenção para as causas dos movimentos sociais”. Jornalista, ele também é professor universitário na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e na Universidade Veiga de Almeida (UVA), ambas no Rio de Janeiro.


Remetendo às origens da cultura judaico/cristã e patriarcal na qual vive a nossa sociedade, o deputado afirma que temos que desnaturalizar as coisas que temos como inatas. “Cada vez que a gente reproduz e silencia o direito do outro, a gente colabora para esse processo [de opressão]”, explica Neli, acrescentando que é importante socializar outras formas de pensar. “Nos tiraram o direito de pensar e ocupar outros espaços”, afirma ao falar sobre as profissões que normalmente são ocupadas por mulheres negras, como a de empregada doméstica, e das dificuldades que enfrentou para concluir o ensino superior e se tornar socióloga.
“Direitos não são conseguidos, são conquistados”, ressalta o deputado, que acredita, também, na importância da internet e das redes sociais como um canal possível para disputar com os meios de comunicação de massa, como a televisão e o rádio. Fazendo o uso destas ferramentas, é possível garantir mais dignidade para pessoas em situação de rua, mulheres, negros, homossexuais, transsexuais e outras minorias.
Contudo, defende que as redes sociais digitais precisam ser aliadas à educação de qualidade e ao acesso ampliado a estas redes, de forma que elas não se transformem em meios de disseminação da barbárie, ódio e intolerância. “Isso vai transformar profundamente a democracia”, defende. “As pessoas vão ter a capacidade de se proteger de toda a manipulação, não só a manipulação governamental, das igrejas, da propaganda, como também a manipulação das próprias redes.”
“Temos que democratizar o acesso à internet”, lembra Monteiro, destacando que, atualmente, a população de rua utiliza lugares como os faróis do saber para usar os computadores. Ele ainda destaca que a popularização de jornais gratuitos também ajuda aqueles que não têm um teto a se manterem informados.


Debate acadêmico
Para Neli, fomentar esse tipo de debate no ambiente universitário é extremamente importante. “Eles são formadores de opinião e precisamos sair da zona de conforto para refletir com profundidade. O estudante é a ponte entre a academia e o mercado e, no futuro, ele é quem irá produzir estes conteúdos”, opina. A discussão provocadora, segundo a militante, auxilia nesse processo de formação.
Ao final do evento, Wyllys fez uma sessão de autógrafos de seu novo livro, “Tempo Bom, Tempo Ruim”, conversando e tirando fotos com todos os interessados.
Por Jéssica Maes