Mas, segundo pesquisas realizadas pelo Laboratório de Acústica Ambiental, a poluição sonora interfere no processo de aprendizado quando detectada em salas de aulas com acústica de má-qualidade. E mesmo quando não há perda auditiva, a poluição sonora causa danos psicofisiológicos que afetam a saúde e o bolso.
A pesquisa – O LAA é coordenado pelo professor Paulo Zannin, doutor em acústica técnica pela Universidade de Berlim, que a partir de 99, através de projetos do CNPq e projetos com o governo alemão, montou o laboratório que hoje funciona com 15 alunos de mestrado, de doutorado e da iniciação científica. Em um trabalho defendido em 2003 pela arquiteta Carmem Louro, constatou-se que as salas de aula da rede pública estadual com problemas de acústica interferem na inteligibilidade do que se é dito pelos alunos. Já o da Arquiteta Andressa Ferreira compara os níveis acústicos entre as salas de aulas do politécnico – construídas em 1962 com as recentes do jardim botânico, em que foi possível constatar uma qualidade acústica bastante inferior.
A qualidade acústica do ambiente interfere na captação daquilo que se é transmitido e, conseqüentemente, na interpretação do conhecimento. Esses danos não afetam apenas os receptores de informação, mas também os professores. Isso faz com que o professor tenda a falar em um tom, numa potência sonora que não leve a uma fadiga vocal. Segundos dados da OMS, nos Estados Unidos são gastos em torno de um bilhão de dólares por ano devido ao afastamento de professores na sala de aula provocada pela fadiga vocal. Em um ambiente muito reflexivo a tendência é aumentar o volume da voz para suprir esses ruídos, podendo-se até ouvir o que se está sendo falado, porém vai gerar uma cacofonia. Para adolescentes e adultos isso pode ser amenizado pelo fato de possuírem ramificações cerebrais desenvolvidas bem como possuem um vocabulário maior, podendo preencher as palavras não entendidas.
Porém o problema se torna grave em crianças no primário, que estão ainda formando vocabulário, formando as conexões cerebrais, não vai conseguir preencher os vazios. Vai perder 30 a 40 por cento das sílabas faladas, gerando assim uma deficiência no aprendizado.
Quanto ao formato das salas, não há grandes mudanças porque todas são retangulares. O que interfere é a questão do material. O forro, por exemplo, das salas de aula do politécnico, possui absorvente acústico e o chão é de madeira, que tem uma propriedade ajuda a absorver o som melhor que a do paviflex. Em média, o tempo de reverberação nessa sala é de 3,3 segundos, já as do poli tem a medição de 0,7 segundos. A OMS recomenda o tempo de reverberação pala salas de aula de 0,6 segundos. Esse tempo indica que uma sala de aula reverbera muito.
O laboratório não está investigando materiais empregado nas construções e sim o que existe, as salas construídas. As salas do politécnico têm chão de taco e forro acústico e as do botânico têm teto de concreto. A absorção média de um forro acústico é de 70% contra 2% de teto de concreto. O taco absorve 28% contra 2% do paviflex. Ao assistir uma aula qualquer movimento na sala gera reverberação e faz que o que está sendo falado chegue em pedaços. Isso já está constatado em nível objetivo com medições e subjetivo através de conversas informais com alunos que tem aula nos dois campi.
Mudanças – Para mudar essa situação acarretaria um custo apenas acrescentando materiais já que o formato das salas não mudam. Para Zannin, o laboratório tem a preocupação de perguntar se quem projetou essas construções sabem desse problema, se o arquiteto, engenheiro pensou na questão acústica. O professor lamenta que esses dois cursos estejam longe do que se pesquisa no laboratório e que essa disciplina não seja obrigatória, bem como da pouca interação entre áreas afins. O que deve ser feito junto ao projeto arquitetônico e ao projeto estrutural é o projeto acústico. Essa falta é o que faz com que salas de projeção, de aula, teatros etc tenham um som ruim.
Objetivos – Segundo Zannin, o objetivo dos estudos é despertar a sociedade e as autoridades para o problema, pois é mais um poluente físico que tende a aumentar porque as cidades continuam crescendo e novos objetos sonoros são criados para utilização cotidiana.
A OMS mostra a problemática do ruído e classifica a poluição sonora como a terceira a afetar o homem, perdendo apenas para o ar e a água com impactos econômicos como uso de drogas em locais onde ruídos sonoros são de 55 a 60 DBA. Pessoas que habitam com essas condições consomem 15 % a mais de drogas para dormir que indivíduos que moram em locais abaixo de 55 DBA. Algumas profissões causam danos auditivos permanentes. Na indústria, motoristas de táxi e de ônibus. Outros problemas causados pelo ruído se referem à depreciação da moradia de alto e baixo padrão. Essas construções não foram projetadas para isolar o ruído, o que provoca insôniaAlguém bate o carro devido ao mau humor de uma noite mal dormida. Veículos sem escapamento produzem níveis elevados de ruído. Existe uma portaria do ministério do trabalho, uma norma que regulamenta que 8 horas de serviço não deve ultrapassar a 85 dba, caso ocorra será obrigatório o uso do protetor auditivo, pois existe a possibilidade de dano auditivo a NR15. Muitos funcionários são resistentes ao uso do protetor pelo desconforto que alguns modelos apresentam. As empresas na hora de adquiri-los não. Para Zannin, o ruído industrial é inevitável mas o que é possível fazer é reduzi-lo na fonte, nas máquinas. “As indústrias que projetam podem desenvolver veículos e máquinas mais silenciosos”
Doenças – Perda auditiva é a doença do trabalho número 1 na Alemanha, no Japão e nos Estados Unidos, uma das três maiores economias do planeta. Países que investem na pesquisa da redução do ruído, onde os sindicatos são fortes onde há cobrança por garantias de um ambiente de trabalho mais salutar, e mesmo assim é a principal doença de trabalho. No Brasil, àqueles que precisam usar protetor não sabe qual o mais adequado devido a desinformação, o que lava a indústria a comprar soluções que muitas vezes não são as melhores.
Entre os pesquisadores do LAA há um biólogo que trabalha com o soundspace – que estuda os espaços de um ambiente. Os openspace (espaços abertos). Em sua especialização estudou a poluição sonora no Jardim Botânico, o Passeio Público e o Parque São Lourenço, pesquisa que será estendida a outros parques. Já outros parques, por características próprias estão dentro dos padrões acústicos exigidos pela legislação local comparadas com os parâmetros da OMS.
Em relação à acústica do ambiente construído, ou bio-acústica, o LAA é considerado um dos laboratórios de ponta no Brasil, com estudos em conforto acústico, parâmetros acústicos para o ambiente construído como tempo de verberação, isolamento acústico entre cômodos, propriedades acústicas da moradia, teatro etc. Hoje, o laboratório está adquirindo um software de simulação acústica “Odeon”, onde foi utilizado na Royal Ópera de Copenhaguen, capaz de simular o público em diversas capacidades, ao custo de 9 mil dólares, para aprimorar ainda mais suas pesquisas.
Foto(s) relacionada(s):
Fonte: Letícia Hoshiguti
Já está disponível a avaliação de cursos e disciplinas do segundo semestre do ano letivo de 2024. Alunos […]
Pesquisadores do Núcleo de Fixação Biológica de Nitrogênio da UFPR trabalharam décadas para criar inoculante que alavanca produção na agricultura.
A exposição “Nhande Mbya Reko: Nosso Jeito de Ser Guarani”, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade […]
O Centro de Estações Experimentais – Fazenda Canguiri da Universidade Federal do Paraná (UFPR) recebeu doze novos equipamentos […]