Grupo de pesquisadores e o deputado federal Gustavo Fruet. Foto: Marion Brepohl.
Um projeto de pesquisa desenvolvido na Universidade Federal do Paraná, em parceria com outras universidades públicas, recupera fragmentos da Ditadura Militar Brasileira. O foco do trabalho são as histórias das populações vulneráveis, das pessoas que sofreram graves violações de direitos e que não tiveram as memórias evidenciadas. A pesquisa iniciou com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a segunda fase será possível graças a uma emenda complementar de R$ 100 mil, disponibilizada pelo deputado federal Gustavo Fruet. Os documentos levantados pelo grupo são organizados em uma plataforma on-line, com acesso para cientistas de qualquer lugar do mundo.
“Trataremos de pessoas que foram atingidas pela ditadura militar, que sofreram graves violações de seus direitos e que não são lembradas pela sua condição humilde ou a pequenez dos acontecimentos em que estiveram envolvidas. Refiro-me aos indígenas que tiveram suas terras expropriadas, às mulheres que sofreram de abusos sexuais quando detidas pela polícia política, ao funcionário público que se negou a um ato de arbítrio, aos estudantes que foram detidos e agredidos de forma indiscriminada e outros”, afirma a professora Marion Brepohl, do Departamento de História da UFPR.
Pesquisa
Na primeira fase, os pesquisadores armazenaram e indexaram 1200 documentos da Comissão Estadual da Verdade, grupo que examinou e esclareceu violações dos direitos humanos praticadas no Paraná entre 1946 e 1988.
Na segunda etapa serão analisados documentos do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) do Paraná, arquivos da Argentina, do Paraguai e do Uruguai. De acordo com a professora Marion, muitas perseguições de que foi alvo a sociedade brasileira se deram nestes países por causa da Operação Condor, um esquema policial coordenado pelos Estados Unidos e pela polícia política de países da América Latina.
O coração do levantamento são os migrantes diaspóricos (haitianos, venezuelanos, colombianos), os povos originários e a violência de gênero. Segundo a professora, “a mulher abusada durante a ditadura fala de sua militância, mas não do abuso, porque para a militância há reconhecimento, para o abuso, não há nada. A maioria das mulheres que era detida ou presa, à época da ditadura, sofria de abuso sexual. Este crime carece, até hoje, de visibilidade e reparação”.
Banco de dados
Paralelamente ao trabalho de campo, cientistas da informática trabalham na construção da plataforma DSPACE, um programa que organiza, disponibiliza e recupera os documentos para pesquisas futuras.
“Com as palavras-chave que o pesquisador ou pesquisadora pode digitar, podemos encontrar, por exemplo, camponesas mulheres que sofreram tortura ou operários que foram reprimidos em passeata ou advogados que delataram estudantes e assim por diante. À medida que incrementarmos um tema, a plataforma pode ser acrescida de mais e mais documentos, tanto quanto sair do universo regional e ser ampliada, como será gora, abarcando documentos de fora do Brasil, mais objetos de pesquisa poderão ser acrescidos”, revela a professora Marion.
Revisão dos crimes da ditadura
O trabalho do grupo de pesquisadores é mais um passo para o esclarecimento dos crimes de Estado cometidos durante a Ditadura Militar.
“Na Argentina, no Chile, no Uruguai, todos sabem o que é um desaparecido, o que são as mães da Praça de Maio, ninguém quer uma polícia violenta, ninguém vota em quem defende a guerra ou quaisquer atos violentos. Ninguém que elogia torturador seria eleito para qualquer coisa. O Brasil foi o único país na América do Sul que não revisou os crimes de Estado perpetrados durante a ditadura, por isso, não surpreende que algumas pessoas admirem o regime militar, afirmando que aquela época era uma época de paz e harmonia. Afora isto, a impunidade, a polícia sabe que pode bater, que pode torturar, tem este exemplo na história”, defende a professora.
Equipe
A equipe é composta por pesquisadores da UFPR, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e de convidados da Argentina e da Suíça.
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