

A pesquisadora do Centro de Estudos do Mar, Camila Domit, ficou dois meses no Mote Marine Laboratory, na cidade de Sarasota, Florida, estudando os mamíferos marinhos. Na ocasião, ela escreveu um artigo para a revista do laboratório. Acompanhe:
“Desde 2008, o Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC) do Centro de Estudos do Mar estuda os mamíferos e tartarugas marinhas no litoral do Paraná. Nesta região o boto-cinza (Sotalia guianensis) e a Toninha (Pontoporia blainvillei) são as espécies mais freqüentes de golfinhos, sendo ambas consideradas ‘espécies ameaçadas de extinção’. A equipe LEC desenvolve uma abordagem ecológica e etnoecológico e utiliza uma grande variedade de métodos para análise de estruturas e dinâmicas populacionais, uso de habitat, comportamento, dieta, condições de saúde e avaliação das interações humanas e seu impacto sobre os golfinhos. Este trabalho só vem sendo possivel devido a colaboração com diferentes instituições como ICMBIO, IBAMA, UERJ, UEL, UNIVILLE, FURG, FIOCRUZ (GEMM-Lagos), GEMARS e UERGS, e atualmente o laboratório conta com mais de 20 estudos acadêmicos realizados com dados ou amostras de golfinhos do Paraná.
Recentemente, tive a grande oportunidade de realizar um treinamento junto ao Sarasota Dolphin Research Program (SDRP) e aprender com a experiência do Dr. Randall Wells e sua equipe. A formação que recebi em Sarasota será aplicada no monitoramento dos golfinhos e da qualidade ambiental do litoral do Paraná. O SDRP é apoiado pela Chicago Zoological Society e é um programa de pesquisa e conservação muito importante, pois a equipe vem realizando estudos ecológicos e avaliações de saúde em golfinhos-nariz-de-garrafa por gerações, desde a década de 1980. Poucos animais tiveram suas histórias de vida tão documentadas como os golfinhos na Baía de Sarasota. Os pesquisadores do SDRP podem lhe contar a data de nascimento de um golfinho em particular, o sexo, quantos filhotes ja teve, quem são seus parentes, além de descrever perfeitamente todos os seus comportamentos simplesmente identificando os animais pelos cortes na nadadeira dorsal. A equipe do SDRP conduz diversas expediçoes mensais para coletar dados observacionais que lhe permite compreender melhor o comportamento social dos golfinhos-nariz-de-garrafa, suas atividades de forrageamento, formas de comunicação, estado de saúde, distribuição e uso do habitat. Além disso, são coletados dados a partir do uso de rádio TAG e TAG satelital, de biologia e ecologia de peixes (presas dos golfinhos), quanto às interações humanas e impactos causados por eventos de maré vermelha.
Para o programa de avaliação de saúde, a equipe do SDRP captura os golfinhos de forma breve, estes são examinados por uma equipe de veterinários e outros cientistas, amostras são coletadas e, em seguida, os animais são liberados. Este programa apoia diversos projetos de investigação nas áreas de saúde, fisiologia, contaminantes ambientais, bio-toxinas, história de vida, estrutura populacional, ecologia, audição e comunicação. Entre os objetivos estão os estudos de como contaminantes ambientais impactam a saúde dos golfinhos e seus parametros reprodutivos e a compilação de dados sobre o que constitui a saúde “normal” para esta espécie, além disso, é uma oportunidade para os cientistas conduzirem experimentos quanto ao sistema de comunicação dos golfinhos-nariz-de-garrafa em ambiente natural e para testar novas tecnologias como os TAGs. Os dados biológicos, comportamentais, ecológicos e de saúde integrados fornecem dados de referência para a proteção dos golfinhos em todo o mundo.
Estou feliz por fazer parte desta equipe nesta temporada. Estou aqui há seis semanas e pude participar de inumeras coletas em campo e análises de dados nas áreas de ecologia comportamental, tecnicas de identificação individual, testes de tecnologias e avaliação de saúde dos animais. Acompanhei a equipe SDRP durante coletas de comportamento social e bioacústica, rastreamento dos animais marcados, e para capturar e liberar os golfinhos avaliados quanto ao estado de saúde. Foi uma grande oportunidade para incrementar métodos de monitoramento de populações de golfinhos, organizar e integrar dados e aprender novos métodos para analisar os dados de comportamento social e parâmetros ecológicos. Além disso, tive a oportunidade de conhecer pessoas incríveis e pesquisadores de referência mundial que estudam e estão realmente envolvidos com a conservação de golfinhos ao redor do mundo. O tempo aqui tem sido uma lição de integração, respeito, dedicação e trabalho duro para a conservação dos mamíferos marinhos. Espero que eu possa transmitir o conhecimento que adquiri para a equipe do LEC/CEM e fazer o nosso trabalho melhor na busca da conservação dos mamiferos marinhos do Paraná e de todo o Brasil.”
Camila Domit
Laboratório de Ecologia e Conservação – Mamíferos e Tartarugas Marinhas
Centro de Estudos do Mar- UFPR