Médicos veterinários, biólogos e enfermeiros da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) – campus de Botucatu, estão reunidos em um projeto com objetivo de identificar a presença de doenças em quatro aldeias indígenas da região de Bauru, em São Paulo, a partir da perspectiva da Saúde Única (One Health).
A etapa atual da pesquisa, realizada no interior do estado de São Paulo, é a expansão do projeto original que teve início no Paraná. A pesquisa passou por aldeias de Piraquara, São José dos Pinhais e Guaraqueçaba em 2020 e, além de detectar zoonoses, o estudo também incluiu testagens para Covid-19.


Segundo o professor do Departamento de Medicina Veterinária da UFPR e coordenador da pesquisa, Alexander Welker Biondo, Saúde Única significa unir as saúdes humana, animal e ambiental. Para tanto, o estudo consistiu na coleta de amostras de indígenas, de profissionais de saúde locais e de cães das comunidades, assim como amostras do solo. Em São Paulo, foi coletado material de 347 humanos e 168 cachorros, entre 21 e 25 de fevereiro de 2022.
“Essas comunidades indígenas não possuem atendimento veterinário e a maioria das doenças que acometem as pessoas acontecem com envolvimento de animais, como as zoonoses, e do meio ambiente, por meio de vetores como carrapatos e mosquitos. Dessa forma, resolver apenas a a parte da saúde humana não é suficiente”, explica Biondo.


Os resultados alcançados até o momento demonstram a alta frequência de toxoplasmose em indígenas e em seus cães. Com relação à leishmaniose visceral, todos os indígenas e cães testados apresentaram resultado negativo. Segundo o professor, outras zoonoses – como toxocaríase e leptospirose -, bem como a presença de oocistos de toxoplasma e ovos de toxocara no solo ainda estão sendo pesquisadas. O próximo passo é rastrear possíveis fatores de risco e formas de controle e prevenção das doenças.
A ação é uma pesquisa intervencionista, cujos resultados devem ser convertidos em informações para serem repassadas à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e ao Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Litoral Sul, que contempla as aldeias onde o estudo está sendo realizado. A atuação dos pesquisadores também objetiva a remoção das comunidades do mapa da miséria ou do “quadro da desgraça”, como afirma Biondo.
“Nós fazemos intervenção já na primeira visita: todos os cães recebem vacinas multiespécie, vacina antirrábica, vermífugo, antipulgas e carrapaticida. Isso porque, mesmo matando nosso objeto de estudos — carrapatos, pulgas e vermes —, entendemos que as ações de pesquisa devem ser intervencionistas, ou seja, priorizar a saúde e não exclusivamente a pesquisa”, ressalta o coordenador.


O projeto conta com a participação do mestrando em Biologia Celular e Molecular, Fernando Rodrigo Doline, e do professor Fabiano Figueiredo, do Instituto Carlos Chagas (ICC) Fiocruz Paraná.
Saúde Única e Vulnerabilidade
O projeto é vinculado ao grupo de pesquisa Saúde Única e Vulnerabilidade, da UFPR, que realiza estudos, também em parceria com outras instituições de ensino, com comunidades em vulnerabilidade, como acumuladores de animais, moradores de rua, população carcerária, comunidades tradicionais de pescadores em ilhas oceânicas, indígenas e quilombolas.
A proposta do grupo é realizar pesquisas aplicadas e intervencionistas com populações vulneráveis, priorizando a saúde e buscando Saúde Única.
Por Letícia Barbosa Ribeiro
Sob orientação de Jéssica Tokarski
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