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Pesquisa aponta impactos de barragens em população de Pintado

A alteração do curso de rios por meio da construção de barragens ou usinas hidrelétricas pode alterar a diversidade genética dos peixes nativos destas áreas. Isso acontece pois barragens impedem a migração de peixes, com maior impacto em espécies que realizam Homing – processo no qual o peixe migra para se reproduzir no mesmo afluente onde nasceu. Rafael Baggio, doutor em Ecologia e Conservação pela Universidade Federal do Paraná, descobriu em suas pesquisas que esse é o caso do Pintado (Pseudoplatystoma corruscans), peixe nativo da bacia do Rio Paraná.

Parte das pesquisas de Baggio consistiu na avaliação do Homing na espécie e no efeito de construções de barragens na bacia do Rio Paraná sobre sua diversidade genética. Para isso, foram analisadas amostras de adultos e larvas de Pintado oriundas de cinco rios tributários do Rio Paraná, entre as regiões do reservatório de Itaipu (em Guaíra) e de Porto Primavera (na divisa com o estado de São Paulo). A orientação do estudo é do professor Walter Boeger, em parceria com Andréa Bialetzki – do Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura (NUPELIA) da Universidade Estadual de Maringá (UEM) – e com Thomas Turner – da University of New Mexico (EUA).

O Pintado é um peixe muito apreciado por não conter quase espinhas e carne branca e bem macia. Foto: Codevas.

O pesquisador explica que o período de desova desse peixe é entre outubro e março. Assim, as oito coletas realizadas ocorreram no início e no final do período reprodutivo. Na sequência, as larvas de Pintado tiveram seu DNA sequenciado e foram identificadas em laboratório por uma técnica chamada DNA barcode – que pode ser utilizada na distinção e identificação de espécies. As populações de Pintado foram agrupadas também por marcadores genéticos chamados microssatélite. “Esta técnica permite identificar até relações de paternidade entre indivíduos”, explica.

Ao final da genotipagem, Baggio identificou populações geneticamente diferentes de larvas nos rios afluentes da região estudada. Essas populações se misturavam na calha principal do rio, o que caracteriza a migração. Porém, o estudo apontou que as populações que se reproduzem mais próximas à barragem de Porto Primavera não tinham diferenças genéticas. Dessa forma, Baggio sugere que a barragem impede que os indivíduos que se reproduzem acima dela migrem para seus afluentes. “Esses indivíduos acabam se reproduzindo nos tributários mais próximos da represa, resultando em mistura de populações e homogeneização genética entre elas”.

Uma das coleta das larvas de pintado realizadas na bacia do Rio Paraná. Foto Rafael: Baggio

“O Homing permite que cada população se reproduza no tributário com melhores condições ambientais para elas. Quando há cruzamento entre essas populações, há possibilidade de perda da adaptação local, o que pode diminuir o tamanho da população e, em casos extremos, causar extinção local”, pontua o pesquisador. Uma vez que o Pintado é um predador de topo de cadeia, a diminuição de sua população pode causar grandes alterações na biodiversidade. Além disso, afeta o estoque pesqueiro da região, gerando prejuízos econômicos.

De acordo com Baggio, estudos como este são importantes para entender o impacto ambiental de grandes obras. “Estudo sobre o impacto de grandes barragens em rios sobre peixes têm sugerido que elas não causam alterações genéticas em curto prazo. Contudo, nenhuma pesquisa focou espécies que realizam Homing. Dessa forma, nosso estudo é o primeiro a sugerir que alterações genéticas em populações de peixes podem ocorrer mesmo em poucas gerações após a construção da barragem. Por isso entender a influência destas construções e desenvolver mecanismos de mitigação destes impactos torna-se fundamental”, defende Baggio.

Por João Cubas

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