

Desde pequena Nilce Nazareno da Fonte foi atraída pelo bonito visual dos tubos de ensaio que via na televisão. Foi assim que ela começou a sonhar com Farmácia, profissão que lhe deu muitos desafios e outras vertentes para se apaixonar.
Já farmacêutica, ela queria trabalhar com análises clínicas, e chegou a fazer isso por algum tempo, porém a vida havia reservado outros caminhos para ela seguir. Em 1991 ela se tornou docente da Universidade Federal do Paraná, onde até hoje leciona farmacognosia. Foi a partir daí que ela descobriu a qualidade de gestora, que vem aliando com a docência desde então.
Nilce não se acanha em confessar ser uma profissional que segue a linha oposta da maioria dos colegas. Diferente dos pesquisadores e professores muito voltados à academia, ela gosta mesmo é da prática e de trabalhar em constante contato com as pessoas, realizando mudanças por onde passa.
Atualmente, a farmacêutica é coordenadora do curso, posto que assume pela segunda vez. É membro da Comissão de Educação do Conselho Regional de Farmácia do Paraná (CRF-PR), da Comissão de Avaliação dos grupos do Programa de Educação Tutorial (PET) do MEC/SESu e da Câmara Técnica de Medicamentos Fitoterápicos (CATEF) do MS/ANVISA. Já foi tutora do PET Farmácia e trabalhou em diversas Pró-Reitorias da UFPR.
Sua história com a universidade começou após ter feito o curso técnico em Patologia Clínica, no Colégio Estadual do Paraná, quando descobriu que Farmácia Bioquímica era a graduação certa para seguir com seu sonho de trabalhar em análises clínicas. “Eu queria fazer o curso voltado para análises clínicas e não produção de remédios. Historicamente, Farmácia é mais voltado para essa área, a parte de tecnologia de produção de medicamentos é muito nova”, conta.
Em 1986, ela se formou na graduação e no ano seguinte decidiu cursar mestrado em Bioquímica. “Escolhi a professora mais rigorosa para orientar meu trabalho, pois normalmente busco as coisas mais difíceis, que são as que me fazem aprender mais”. Logo Nilce foi convidada a implantar o Laboratório de Cultura de Células na UFPR e, para isso, foi aprender os métodos na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Laboratório implantado, a farmacêutica foi trabalhar com aquilo que gostava no Hospital de Clínicas (HC).
Na época em que estava finalizando o mestrado, em 1989, houve um concurso para docente em farmacognosia. Mesmo sendo para uma área totalmente diferente daquela que a farmacêutica estava acostumada, ela se interessou. “Como eu tinha três filhos, eu ponderei que se me tornasse professora teria a chance de continuar estudando, além da estabilidade. Então eu estudei feito uma maluca, com filho pequeno, empurrando carrinho de bebê com o pé e com outro mamando”. Foi assim que ela se tornou professora, na mesma semana em que defendeu seu trabalho de mestrado.
Ao ingressar na função, a então professora passou a estudar mais sobre o tema e descobriu sua paixão pelas plantas medicinais. Foi quando despertou nela a vontade de fazer doutorado em Agronomia, porém o plano foi adiado devido a um novo desafio: tornar-se coordenadora de curso. “Com dois anos como docente fui eleita coordenadora e tive que aprender tudo sobre a função. Logo no início da gestão, passei a me destacar no cenário nacional pela área curricular, justamente na época em que havia uma discussão no País sobre a mudança no currículo do curso”. Ela conta que foi a partir daí que passou a integrar os universos da profissão farmacêutica, da farmacognosia e da gestão administrativa.
Como coordenadora de curso, uma de suas maiores conquistas foi a mudança de sede. “O prédio em que estávamos na época era muito velho para um curso com equipamentos e produtos de laboratório, era inseguro. Então corri atrás até que liberaram a verba para construirmos o atual prédio (no Campus Botânico) ”, relembra.
Ao final de sua gestão na coordenação de Farmácia, ela se tornou coordenadora-geral dos cursos de graduação, na Pró-Reitoria de Graduação e Educação Profissional (PROGRAD). Ao mesmo tempo, Nilce se aproximou do Conselho Regional de Farmácia, por acreditar que a profissão deve andar junto com a formação. “Passei a frequentar eventos nacionais que me influenciaram a ser candidata a deputada federal em 1998”. Ela não foi eleita, mas continuou seu trabalho na gestão, na coordenação geral de extensão da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC).
Após tantos anos de experiência administrativa, ela resolveu voltar a focar nos estudos e ingressou no doutorado em Agronomia. “Busquei essa área de aprendizado pois queria saber o que acontece no setor produtivo para que a indústria farmacêutica receba uma matéria-prima tão ruim de drogas vegetais”, conta.
Durante o doutorado, Nilce foi a Córdoba (Espanha) para entender as plantas medicinais do ponto de vista europeu. “Lá, além da parte agronômica, eu aprendi muito sobre gestão e o significado de capital social, área que trabalha confiança, que é importante para o sucesso de qualquer projeto. Isso eu utilizo até hoje”


Enquanto docente de farmacognosia, Nilce também trabalhou de maneira muito intensa com a extensão. No grupo PET, ela e os estudantes atuavam em comunidades carentes trocando experiências, aprendendo e ensinando a respeito do uso de plantas medicinais. “Nada melhor do que a ação coletiva para aprender”.
Atualmente na coordenação de Farmácia, a professora está fazendo a reformulação das diretrizes curriculares do curso e, embora já possa se aposentar, pretende recandidatar-se ao posto para finalizar o projeto. “Quero implantar as diretrizes de forma efetivamente coletiva com a participação de estudantes, professores e funcionários para só então me aposentar”, revela.
Recentemente ela foi uma das homenageadas com a “Láurea João Florentino Meira de Vasconcellos”, honraria concedida a profissionais que reconhecidamente se destacaram em atividades de prestação de serviços, produção científica, disseminação do conhecimento e empreendedorismo em ciências farmacêuticas e afins.
Por ser uma pessoa extremamente ativa e que atrai novos desafios, Nilce não tem medo da aposentadoria, que está próxima, e garante não ficar parada. “Tenho vontade de fazer trabalhos voluntários na gestão política. No meio do caminho da minha trajetória também resolvi aprender a pintar quadros a óleo, posso me aprimorar nisso ou até cantar”, anima-se.