As experiências com o ensino de língua portuguesa para migrantes de crise e com o desenvolvimento de políticas linguísticas voltadas à comunidade migrante levaram duas alunas do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Paraná (UFPR) a serem contempladas com projeto no concorrido edital do programa Rumos Itaú Cultural 2019-2020. A discente de doutorado em estudos linguísticos, Carla Cursino, e a doutora egressa, também do programa em estudos linguísticos, Bruna Ruano produziram um livro plurilíngue em que migrantes retratam suas trajetórias.
“Narrativas: Exílios e Encontros” traz textos em árabe, espanhol, crioulo haitiano, francês, aramaico, lingala e português, devidamente traduzidos para o português, sobre histórias de cinco migrantes: Gloire Nkilalulendo (República Democrática do Congo); Myria Tokmaji (Síria); Russel Cerilia (Haiti); Maiker Gutierrez e Ninoska Pottella (ambos da Venezuela). Eles foram alunos de português das discentes no âmbito de iniciativas da UFPR, com destaque para o Programa Política Migratória e da Universidade Brasileira / Cátedra Sérgio Vieira de Mello-ACNUR.


“Não tínhamos nenhuma experiência com editais, mas, para nossa surpresa, nosso projeto foi selecionado. Foram quase 12 mil projetos inscritos e dos 91 selecionados, somos o único do Paraná, o único que nasce, por assim dizer, no diálogo da universidade com a comunidade externa, e o único que aborda a temática das migrações forçadas”, explica Carla.
“Sempre nos incomodou a maneira como os migrantes são retratados pela imprensa e pela história como se todos fossem um só, com a mesma história de vida. Há uma tendência de homogeneização que destitui essas pessoas de suas identidades”, afirma a doutoranda. Ela explica que o objetivo do projeto foi mostrar a história de vida de cada migrante, suas origens, profissão, sonhos, memórias, medos, coragens. “A gente foi aprendendo com nossos alunos que a migração é sempre muito particular e que, para aprender o que é a migração forçada, é preciso olhar para essas histórias individuais”.
O livro é multigênero e multimodal, pois abarca relato narrativo, crônica, entrevista, poema, canção, carta e conteúdos acessíveis via QR Codes, como áudios e vídeos, sobre os relatos dos migrantes a respeito de sua cultura, familiares, infância, brincadeiras, adolescência e projetos de vida. Todo o conteúdo foi elaborado por meio de oficinas criativas, chamadas de “Residências Artísticas”, com o intuito de instigar cada um a mergulhar em sua própria história. As oficinas foram conduzidas pelo artista e arte-educador Alexandre Zampier e pela professora do departamento de Psicologia da UFPR, Elaine Schmitt.


Carla conta que, ao todo, foram oito encontros em que os autores voltaram à infância, à passagem para a vida adulta; relembraram, também, o processo migratório, a saída de seus países e a chegada ao Brasil. Em seguida, a equipe, em conjunto com os migrantes, lapidou todo o material do livro que está disponível para download aqui.
Saiba mais sobre o projeto no Instagram @livro.narrativas.
Por Comunicação PPG-Letras UFPR